quinta-feira, dezembro 30, 2010

Serralves



















(Foto: Luís Marques)

Serralves I







(Foto: Luís Marques)

Serralves. O sol debatia-se com os farrapos de nuvens que ameaçavam agrupar-se naquele dia.

Grazia Toderi.

Nada mais do que fotografias de cidades, fundamentalmente italianas, sobrepostas, de onde sobressaíam focos de luz que se movimentavam por toda a tela. Em redor, um som indefinido, ora bramido de mar, ora de pequenas explosões que, frequentemente, em vez de destruir construíam. O que aparentemente parecia ser uma ideia simples tornou-se numa criação apelativa, digo mesmo mais, poderosa pois atraía o olhar do espectador, coagia-o a deixar-se enredar pela miríade de pontos móveis que vagueavam por ali, incitava-o a um vagar contemplativo.

E depois as palavras da guia jovial que abria outros caminhos de percepção da imagem. Outras ideias pulularam pelo Museu, partilha de sensações visuais.

Abandonaram imagens da urbe, deixaram de ouvir os bramidos da cidade, penetrando na densidão esverdeada em busca da surpresa e do deleite. Percorreram labirintos empedrados, perscrutando o lago e seus habitantes que aí deixavam os seus desenhos serpenteantes. Havia uma espécie de feitiço inexplicável bem no umbigo dos jardins de Serralves; primeiro, às portas do edifício havia um caminho ondeante que convidava os curiosos a segui-lo e a descobri-lo vagarosamente; depois uma avenida de liquidâmbares que se abria, em clareira, e apresentava a casa cor de rosa e os seus jardins escadeados. A partir daí, as folhagens, que nem cortinas, iam-se afastando, de par em par, para satisfazer olhares indiscretos.

T.G.

terça-feira, dezembro 28, 2010

Onde mora o meu sonho?

Onde mora o meu sonho?

Depois do meu amanhecer caminhado

Entre a cegueira de uma vida citadina

Cansada pelos murmúrios barulhentos do progresso

Sentindo ao longe o canto arrastado de botifarras desconhecidas

Ora frescas leves e vernizadas

Ora doentes negras e cambadas

Onde o veículo de conforto do Homem

Respira e cospe um contágio poluído

Ruge pela pressa que tem no meio de iguais

Agredindo outros com toques por demais

Quando ele mesmo sabe indiferente

Que faz o outro e mais outro esperar

Até atingir o cais que pretende alcançar

Quando nem dá conta do que desponta divinal

Num rasgo de um brilho ardente que ele não sente nem vê chegar.

Mas onde mora o meu sonho?!

Sonho o sonho que agora demora na Era

Por entre verdes prados que vivem de brincadeiras

Junto de graciosas Guardiãs montanhosas

Que fazem conduzir os fios da vida

Colidindo o cansaço ao saciar-lhes a sede

Defronte ao progresso que caminha em contramão

Numa ameaça feroz à humilde ruralidade

Ténue e ingénua aos avanços científicos

Mas onde sempre será rainha

Ao equilíbrio da humanidade.

É aqui onde mora o meu sonho!

Algures nas terras altas

Pela tranquilidade natural e o constante contacto com a natureza

Em fuga à impessoalidade e ao estéril do betão

Por troca dos fumos dos motores

Pelo essencial ar mais límpido

Puro… …Naturalmente…!

Este é o Sonho

Sem fundo na Era

Mas conhece seu Dono

Onde livre ele o espera …!

Miguel Ângelo G. (EFA TIR)